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Gravataí, Rio Grande do Sul, Brazil
Daniel de Sàngo Agandjú, Religião de Matriz Africana Nação Ijexa, Filho de Santo de Pai Pedro de Osun Doko, Professor de Educação Física Licenciatura Plena formado pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/Canoas), Técnico de Manutenção Mecânica formado pelo SENAI/Gravataí, Técnico em Administração formado pela Escola Fundação Bradesco/Gravataí

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Cultura Iorubá - O Casamento

                                  
Antigamente o casamento era um ato muito importante, e as pessoas casavam assim que tinham condições. Se uma pessoa com condições não quisesse se casar, tinha até que sair da cidade, por causa da insistência dos parentes e conhecidos. Tradicionalmente a escolha da noiva era feita antes dela nascer, ou quando era ainda criança.

Se um rapaz quisesse casar, procurava dentre seus vizinhos um senhor honrado, que tivesse algumas esposas. Primeiramente o jovem visitava a família, levando sempre presentes para agradar o dono da casa. Um dia pedia-lhe que, quando uma das esposas ficasse grávida, caso nascesse uma menina, lhe fosse dada como esposa.

Quando uma das esposas engravidava, o rapaz passava a cuidar do casal. Se nascesse uma menina, ele assumia a responsabilidade do bebê, pois já era considerada sua esposa. Durante o crescimento da criança o rapaz devia

mostrar aos pais que podia cuidar dela, e que nunca a deixaria passar fome.

Quando ela ficava moça, começavam a se encontrar e conversar, e era marcada a data do casamento. A moça não tinha outra opção, e jamais poderia se separar do marido, pois os pais nunca a perdoariam.

• Ifojúsóde - a escolha da noiva

Com o passar do tempo, surgiu outro modo mais moderno de procurar uma noiva. Quando um rapaz adulto tinha condições para se casar, os pais começavam a procurar-lhe uma esposa, sem ele saber.

Ele, por sua vez, também começava a procurar uma noiva, e seu comportamento mudava. Tomava banho várias vezes ao dia, e passava a cuidar dos dentes, cabelos e unhas. Quando finalmente se apaixonava, contratava uma alárinà (investigadora), uma mulher cuja função era descobrir tudo sobre a moça e sua família, porque para casar precisava ter certeza de que era com a pessoa certa.

Se a moça tivesse mau comportamento, ou em sua família houvesse dívidas, mendigos, leprosos, ladrões ou qualquer fato desabonador, o rapaz desistia do casamento. Se ao contrário, tudo fosse positivo, começava o trabalho de conquista.

A alárinà elogiava o rapaz na frente da moça, e planejava uma forma de fazer com que se encontrassem. Caso a moça gostasse do rapaz, seguiam-se outros encontros, até resolverem casar. Só então a moça autorizava o rapaz a comunicar o namoro aos pais dela.

• Itoro - o pedido de casamento

Primeiro o rapaz falava com seu pai, dizendo que “viu uma flor muito bonita na casa de fulano, e desejava colhê-la”, e explicava os entendimentos que já havia tido com a moça. O pai do rapaz ia então à casa da moça, com os membros mais velhos da família, para o pedido de casamento. A esta altura, ela também já havia comunicado ao pai.

Geralmente o pai da noiva marcava uma outra data, para a mãe também estar presente. No dia do pedido o noivo pagava às esposas do pai para banharem a noiva. As famílias e os amigos então se reuniam para o pedido oficial. A família do rapaz levava presentes (vinho, obi, whisky, etc.) para a casa da noiva.

Uma pessoa mais velha chamava os noivos, perguntando à moça se ela gostava do rapaz. Se respondia que sim, eram considerados noivos, e todos bebiam vinho de palmeira para comemorar.

Depois do noivado o rapaz começava a pensar no que iria oferecer como dote ao pai da noiva. No dia da entrega dos presentes, antes de começar a comemoração tudo que o noivo levava era usado para rezar para os noivos. A pessoa mais velha da família da noiva entregava a moça à pessoa mais velha da família do rapaz, recomendando que ela não deveria apanhar, não deveria passar fome, etc.

Os presentes tradicionais oferecidos pelo rapaz à família da moça eram:

mel, cana de açúcar e sal - que quer dizer que eles iriam ter uma vida alegre, boa;

obi e orogbo - significando que eles iriam ter uma longa vida juntos;

búzios (dinheiro) - significando que iriam ser ricos;

pimenta da costa (atare) - significando fecundidade;

azeite de dendê (epo) - que queria dizer que eles não teriam dificuldades na vida.

Após a reza a moça se preparava para deixar a casa dos pais. A partir desse dia a moça passava a morar na casa do noivo, vivendo como esposa.

Todo o enxoval da noiva era dado pelo noivo, quer em forma de dinheiro para as compras, ou dos objetos que ela iria precisar. Em todo o processo, desde a busca da namorada
até o dia do casamento, era sempre o rapaz quem pagava tudo, e a data só era marcada depois de tudo pago. Em algumas localidades, o pai da noiva ainda pedia ao rapaz um dote em dinheiro.

• O
canto nupcial (ekun ìyàwo)

O canto nupcial era cantado pelas noivas na véspera do casamento, e faz parte da tradição oral iorubá. O ritual variava de acordo com a localidade, e descrevemos aqui como era na cidade de Oyo, de acordo com pesquisa feita naquele local.

O canto era transmitido de geração a geração, de forma oral. As noivas procuravam mulheres antigas para acrescentar mais versos aos que aprendiam desde a adolescência. Fazem isso por um período de 2 a 3 meses antes do casamento.

O canto nupcial expressava a emoção da noiva sobre as pessoas e coisas que faziam parte de sua vida, especialmente parentes e amigos. Representava seus sentimentos com relação aos parentes, principalmente a mãe. Falava de sua tristeza por ter que ir embora e deixar a família e sua posição na casa. Ia deixar tudo e passar a viver na companhia de um homem a quem pouco conhecia, convivendo com pessoas inteiramente novas para ela. Era um período de incerteza. Por outro lado havia o sentimento de

alegria, pois iria se tornar independente e formar sua própria família.

No dia marcado, primeiro a moça cantava para seus pais, ajoelhada, expressando gratidão e rezando para que eles fossem recompensados pelo trabalho que tiveram com ela, e pedindo a bênção, para ser feliz, não ser estéril nem dar à luz um abikú.

Era crença iorubá que a bênção dos pais era essencial no início da nova vida de uma noiva. Pedia-lhes que rezassem para ela ser feliz com os novos parentes. Se um dos pais fosse morto, ia cantar à beira do túmulo, pedindo sua bênção.

Depois saía pela cidade, cantando de casa em casa. Cantava para os parentes e amigos, expressando sua ansiedade, seus medos e incertezas sobre a vida: medo de não saber resolver os problemas tornando-se ridícula ou malquista, medo de ser maltratada ou insultada.

Se no meio do caminho encontrasse uma amiga de infância, deveria cantar lembrando a amizade, as artes que fizeram juntas, dizendo que o que as estava separando não era briga nem inimizade, mas a necessidade de constituir uma nova família.

No canto ela falava discretamente de sua beleza, e do orgulho de ter preservado a virgindade. Tradicionalmente as virgens usavam contas na cintura.

Se encontrasse uma mulher casada estéril, deveria cantar expressando sua simpatia, e rezando para que a outra ficasse fértil. Se encontrasse outra noiva realizando a mesma cerimonia, as duas iniciavam uma competição de canto, como um desafio.

O canto nupcial não tinha rima nem métrica regular. O comprimento de cada verso podia variar, de acordo com a moça. A beleza do canto dependia também da beleza da voz da noiva.

• O ritual do casamento

O ritual do casamento variava de cidade para cidade, mas era sempre à noite que a noiva ia para casa do noivo.

Se a moça fosse de família rica penteava os cabelos de forma diferente e colocava roupas e sapatos da melhor qualidade. Se fosse filha de um rei enfeitava os cabelos, braços e pernas com contas de coral. No caminho era cumprimentada como o próprio rei.

Na hora da noiva deixar a casa do pai, este rezava por ela, e toda a família acompanhava as orações, acompanhando a moça até à rua, em cortejo, que passava

pelas casas dos parentes dos noivos, para todos a abençoarem.

Ao sair da casa dos pais a moça recebia um menino ou menina para ficar como seu ajudante (em geral uma irmã ou irmão mais novo). Essa criança passava a executar o trabalho doméstico.

Ao chegar à casa do noivo o rapaz saía, porque a tradição dizia que ela não devia encontrar o noivo dentro de casa. Antes de a moça entrar, o noivo lavava-lhe os pés, para deixar todo o passado do lado de fora e começar uma vida inteiramente nova. Na entrada da porta era colocada uma cabaça, que a noiva devia quebrar com os pés. O número de pedaços em que ela a conseguisse quebrar indicava o número de filhos do casal. Por esse motivo, era sempre comprada uma cabaça bem fina, para se quebrar em muitos cacos.

Ao entrar na casa do noivo, a moça era recebida pela família e levada para um quarto, onde ficava durante três dias. No terceiro dia o marido ia dormir com ela, para saber se já havia conhecido outro homem antes dele. Se a moça não fosse mais virgem, era devolvida à família.

Na manhã do quarto dia a família da noiva ia visitar o casal. Se a moça não tivesse casado virgem, a família do noivo dava-lhes de presente um jarro de vinho pela metade,

significando que a mulher era usada. Ela voltava para casa dos pais, e a família ficava coberta de vergonha.

Se a moça fosse virgem, no sétimo dia após o casamento as outras esposas arrumavam tudo, preparavam comida, e todos comemoravam.

A partir daí só se ouvia falar nela após três meses. Havia uma festa em que ela é que fazia a comida, e ela podia sair pela primeira vez para visitar seus pais. Depois desse dia já podia ir às compras, fazer comida para todos, e passava a ser chamada iyawo (esposa), até o marido arranjar mais uma esposa.

Sàráà omo - Doar a filha - tipo de cerimônia de casamento feita pelas pessoas que seguiam a religião muçulmana. O pai criava a filha e planejava doá-la como esposa a um pastor muçulmano, calmo e de bons costumes. O pastor só ficava sabendo na véspera, quando o pai mandava dizer que se preparasse para dar banho em uma esposa. Ele não podia recusar, e tinha que se preparar para recebê-la. O pai da moça dava roupas, sapatos, dinheiro, tudo para os noivos, e havia uma grande festa, após a qual eram considerados marido e mulher.

Havia outro processo de casamento muçulmano que era idêntico ao tradicional yorubá, mudando apenas as rezas. O pai do rapaz fazia o pedido ao pai da moça, e no dia

marcado ela era levada, à noite, para casa do noivo, sendo considerados casados.

Atualmente é raro encontrar alguém que ainda siga estes rituais. Modernamente os casamentos são realizados no civil e no religioso, de acordo com a crença e a vontade dos noivos, e é o rapaz que escolhe sua futura esposa.

Casamento católico - cerimônia igual à realizada em qualquer parte do mundo. Na Nigéria quem casar na igreja católica só podia se separar depois de três anos.

Casamento civil - Feito no cartório, o processo é sempre o mesmo, independente de religião. A diferença é que os cristãos juram sobre a Bíblia, os muçulmanos com o Kovan e as pessoas da religião dos orixás juram por Ogun.

Atualmente, nas casas de candomblé brasileiras, a recém-iniciada, chamada iyawo (iyawo), após a feitura, não pode sair da casa de santo por um certo período, que varia de casa para casa.

fonte: http://oyamesanorun.blogspot.com/2010/08/cultura-ioruba-o-casamento.html
Texto extraído do livro: CULTURA IORUBÁ - Costumes e Tradições 

de Maria Inez Couto de Almeida - Ifatosin 

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